quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Algumas questões de método em sociologia
Pode-se dizer que a sociologia surgiu como ciência autônoma a partir de Comte e Saint Simon. Mas não ainda como disciplina constituída com um corpo sistemático de conhecimentos e de métodos específicos. O processo de autonomização da sociologia, em especial sua separação da filosofia, percorre todo o século XIX e, de certo modo, persiste ainda em nossos dias. Em Comte surge, pelo menos, a preocupação de estudar a sociedade com critérios "científicos".
Na Idade Média, com o rígido controle da Igreja, os espíritos mais indagadores e sábios eram ameaçados com o fogo do inferno e ardiam, de fato, nas fogueiras da inquisição. A ciência não podia discutir as causas últimas da natureza e dos fenômenos sociais, pois tais problemas só poderiam ter uma solução justa por meio da "revelação".
No Renascimento começa o conflito entre as concepções teológicas, sustentadas pela escolástica (que era um método de filosofar que tentava demonstrar a verdade da religião), e a ciência experimental que estava surgindo. A ciência experimental, por seu turno, paralelamente ao desenvolvimento da técnica, reforçava a idéia da burguesia nascente de que a "razão" era onipotente e não deveria estar limitada por quaisquer entraves ou preconceitos.
Quem primeiro formulou as regras mais gerais do que deveria ser o método científico foi Descartes, que negava a existência de noções apriorísticas legítimas e condenava a especulação, favorecendo, desse modo, a ciência experimental e a observação. No século XVIII, com Newton, começa propriamente a "revolução científica" no terreno das ciências naturais, que a partir desse momento conquistam sua "carta de alforria" em relação à religião.
Nessa época, o movimento que foi chamado de Iluminismo, defende o poder absoluto da "razão" humana. Trata-se de uma concepção burguesa que se inspira, fundamentalmente, na idéia de uma conjunção necessária entre o progresso material e o aperfeiçoamento moral da sociedade. O Iluminismo implica, também, na idéia de que a "razão" pode oferecer os critérios e princípios para reformular e organizar a sociedade, pois concebe a "natureza humana" como algo factível, dado de uma vez para sempre e passível de ser perfeitamente compreendida de modo "racional e científico". Um exemplo clássico, no campo da filosofia, é Feuerbach, que, segundo Marx, entendia a essência humana apenas "como gênero", como generalidade interna, muda, que liga apenas de modo natural os múltiplos indivíduos" (1). Porém, o jovem Marx (e segundo alguns, também em sua maturidade) tampouco escapou das influências do Iluminismo, manifestando irrestrita confiança nos poderes da "razão" e da "ciência" para libertar os homens de toda a opressão.(...) Há nele, sem dúvida, uma crença nas possibilidades da humanidade e na grandeza da "razão" (desde que saiba perscrutar o homem como ser histórico), o que talvez seja, precisamente, o legado irrenunciável do Iluminismo. No entanto, o fato, é que foi Durkheim quem aceitou plenamente o desafio posto por Comte, no sentido de enquadrar, em termos de métodos e procedimentos epistemológicos, as ciências sociais nos padrões das ciências naturais.
Durkheim, em certos aspectos, discordava de Comte: a idéia da existência de "conexões causais", por exemplo, era aceita por ele, embora fosse alheia aos princípios do positivismo. A finalidade da ciência, conforme Durkheim, seria descobrir as conexões causais, a causalidade dos fenômenos observados na sociedade. O modelo da ciência social proposta por Comte era a física. Tratava-se, assim, de fundar uma "física social". Durkheim, à semelhança de Spencer tem como modelo da ciência social a biologia. Mas reconhece como diferença fundamental entre uma e outra, o fato do corpo humano ter uma única consciência, enquanto a sociedade possui uma infinidade de consciências.
O método que Durkheim aplicou a sociologia pode ser sintetizado pelas palavras de Guiddens: "Os fatos sociais, afirmou ele com destemor, precisam ser tratados como "coisas" - talvez o mais controvertido dos preceitos expostos em As Regras do Método Sociológico. Essa brusca afirmação de que os fenômenos sociais pertencem ao reino da natureza é apresentada no livro no contexto de uma interpretação vigorosamente comteana do progresso da ciência. A ciência empírica tem de vencer os preconceitos e ilusões das idéias do homem acerca da natureza antes que a própria conduta social possa ser examinada cientificamente: eis aí uma proeza particularmente difícil de executar, pois o preconceito e a ilusão, na verdade, fazem parte da nossa vida social. Encarar os fatos sociais como coisas é realizar o ato de desapego necessário ao reconhecimento de que a sociedade tem existência objetiva independente de qualquer existência particular nossa; daí que possa ser estudada por métodos de observação objetiva. O traço mais importante de uma "coisa" é não ser plástica à vontade: uma cadeira se moverá se for empurrada, mas sua resistência demonstra que ela existe externamente a quem quer que a esteja empurrando. O mesmo se aplica aos fatos sociais, ainda que não sejam visíveis de modo como o é um objeto físico, como a cadeira." (2)
Não seria preciso dizer que, ao enquadrar a sociologia nos moldes das ciências da natureza, partindo do princípio que os fatos sociais devem devem ser tratados como "coisas", Durkheim reifica a sociedade humana. Quer dizer, toma as relações sociais que transcorrem na dimensão da historicidade como se constituíssem um objeto sujeito a certas leis rigorosas, absolutamente independentes da consciência humana. As relações sociais não são tomadas como inseridas num processo histórico. Assim, Durkheim afirma explicitamente nas Regras do Método Sociológico que os fatos sociais são fenômenos naturais submetidos à leis naturais. E além disso, que devemos considerar os fenômenos sociais desligados dos sujeitos conscientes que, eventualmente, possam ter determinadas representações.
(...) Durkheim teve o mérito de fazer um apelo à exterioridade. Ou seja, ao estudo das manifestações objetivas dos fenômenos sociais, abrindo possibilidades heurísticas bem superiores àquelas que ele mesmo colocou. Se o método de Durkheim, no sentido mais global, está irremediavelmente comprometido com a perspectiva apologética que caracteriza o positivismo, seus estudos desenvolveram e inspiraram "métodos especiais" (técnicas) de pesquisa que hoje são imprescindíveis às ciências sociais.
A posição de Weber, outro clássico da sociologia, em certo sentido, é exatamente oposta a de Durkheim. É o que indica claramente Bourdieu: "Para Weber, não existe um "mundo objetivo" no sentido em que Marx se refere à sociedade global ou Marcel Mauss aos fenômenos sociais totais; a objetividade do social só pode ser apreendida através das ações individuais. A adequação dos tipos-ideais a uma "realidade objetiva" adquire, assim, para a sociologia weberiana, uma importância fundamental; todo o problema se resume em construir uma tipologia da ação - o capitalista, o sacerdote, o profeta, o político, o cientista - para que se possa compreender as objetivações como capitalismo, religião, política e ciência." (3)
Portanto, se para Durkheim o método implica em descobrir toda a verdade na objetividade do social, inclusive os valores que nela estão inscritos independentemente das vontades e consciências, para Weber o método consiste em separar o objeto dos valores. Embora reconheça que, concretamente, na história os fatos e os valores estão unidos e implicados, para ele é possível (e necessário), do ponto de vista epistemológico, efetuar essa separação no processo mesmo de busca da verdade. Segundo Weber, não é a realidade em si mesma que é regida por leis naturais objetivas, mas é possível - dentro de certos limites - atingir a "objetividade" através do método. Para tanto, seriam necessárias algumas condições básicas: a) não recorrer a pressupostos que impliquem em juízos de valor; b) verificar as próprias constatações através do recurso à explicação causal; c) compreender que na seleção dos problemas está embutida uma "relação de valores" que é inevitável, mas que no resultado do conhecimento pode ser superada através do método adequado, já que não são propriamente "juízos de valor".
Na concepção de Weber, que tem a racionalidade da realidade social como eixo-central - pois se a sociedade se constitui como uma inter-subjetividade racional, ela só pode ser apreendida racionalmente, - a construção dos "tipos ideais", que tem como função "explicar" a lógica dos fenômenos, é o ponto nodal do seu método de investigação. Não obstante ele próprio, dotado de uma cultura universal e de enorme talento, tenha produzido trabalhos científicos sumamente importantes na história da sociologia, e que continuam tendo grande valor heurístico, é interessante observar que o método weberiano não fez "escola". Weber talvez tenha sido o único grande weberiano que a história registra. Mesmo entre os intelectuais universitários de nossa época, que discorrem longamente sobre seus méritos, é raro encontrarmos uma adesão global às concepções de Weber. Acontece que, o subjetivismo das premissas weberianas, à medida que negue qualquer possibilidade de totalização social (como faz Durkheim, embora de modo reificado ou de totalização histórica (como faz Marx), deixa margem a um arbítrio metodológico de difícil equacionamento. Nos estudos atuais, Weber normalmente é convocado para socorrer os ecléticos em questões teóricas ou metodológicas pontuais.
Marx talvez seja, não o mais difícil, porém o mais complexo dos clássicos da ciência social. E, sem dúvida nenhuma, é o mais comprometedor entre todos eles, pelo simples fato que foi o mais comprometido com a luta pela transformação social. Esse fenômeno, por si mesmo, já aponta uma das características fundamentais do método marxiano. "Os filósofos - afirmou - se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; mas o que importa é transformá-lo."(4) Outra característica essencial da metodologia de Marx é o pressuposto de uma totalização histórica que considera "a produção e reprodução das condições materiais de existência" como dimensão básica e angular da sociedade. Isso significa que, segundo Marx, não podemos compreender a sociedade como objetivação que possui determinadas leis, nem a conduta "racional" dos homens no interior desse processo, se não levarmos em conta (ao nível dos pressupostos epistemológicos prioritários) aquilo que é prioritário aos próprios homens que vamos analisar.
"Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos meios que permitem a satisfação destas necessidades, a produção da própria vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprido todos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos." (5)
As críticas ao método sociológico fornecido pelo marxismo partem, estranhamente, de dois lados. Daqueles que, seguindo a tradição positivista, consideram que suas premissas não são "suficientemente científicas" em termos das ciências naturais (que são tomadas como parâmetro), pois partem de generalizações que não podem ser comprovadas por via puramente empírica, além de estarem tais premissas vinculadas à noção "terrificante" da dialética. Nesse campo, podemos citar, por exemplo, Mário Bunge, que condena o marxismo como mera "ideologia" e, portanto, incapaz de propor "tecnologias sociais" eficazes para solucionar problemas fragmentários.
Mas as críticas partem, igualmente, daqueles que condenam o marxismo por suas pretensões "extremadas" em termos científicos. E a posição de Castoriadis: A filosofia da história marxista é, em primeiro lugar, e sobretudo, um racionalismo objetivista. Já vemos isso na teoria marxista da história aplicada a história passada. O objeto da teoria da história é um objeto natural e o modelo que lhe é aplicado é um modelo análogo ao das ciências da natureza. Forças que agem sobre os pontos de aplicação definidos produzem resultados predeterminados de acordo com um grande esquema causal que deve explicar tanto a estática como a dinâmica da história." (6)
Submetido a um "fogo cruzado", o marxismo, por certo, é mais vulnerável a essa última posição. O que há de equívoco no marxismo não é o seu "compromisso ideológico" com os explorados e oprimidos, nem o fato de adotar premissas de ordem histórica, mas, ao contrário, certas veleidades de "ciência estritamente objetiva" - tal como as ciências naturais - que se insinuam nos escritos dos clássicos (Marx, Engels, Lênin etc.) e se derramam copiosamente na caligrafia de Stálin e seus epígonos. No entanto, embora Marx não tenha sido um "sociólogo" no sentido estrito e restrito do termo, pois suas contribuições são de caráter mais amplo, seu pensamento representa um eixo crucial das ciências sociais em geral e da sociologia em particular. A partir dele, o método da sociologia - no sentido de um sistema de categorias operantes como desvendamento do real- tentou assimilar numa grande síntese teórica os dois termos da problemática social: conhecimento e ação, indivíduo e sociedade, sujeito e objeto, agente e estrutura, consciência e leis históricas, enfim, "unidade e luta dos contrários" como autoprodução histórica dos homens reais e concretos. Que essa síntese não esteja pronta e acabada, que apresente limitações e ambigüidades, só fazem reafirmar seus pressupostos mais gerais de que a humanidade é um gesto que constantemente estamos fazendo, e que a verdade é um processo ininterrupto, portanto impossível de verificação definitiva "pela via puramente empírica".
Assim, não é de estranhar que Guiddens, um dos sociólogos contemporâneos mais acatados nos meios acadêmicos - e reconhecido pelo seu explícito ecletismo, - ao sumariar as suas "novas regras do método sociológico", coloque como primeira delas uma idéia de inspiração nitidamente marxista:
"A sociologia não esta interessada em um universo `pré-datado' de objetos, e sim em um universo que é constituído e produzido pelas ações ativas dos sujeitos. Os seres humanos transformam socialmente a natureza, e ao ` humanizá-la' eles se transformam; mas eles não produzem o mundo natural, é claro, que está constituído como um mundo-objeto, independentemente de suas existências. Se ao transformar esse mundo, eles criam a história, e portanto vivem na história, eles o fazem porque a produção e reprodução da sociedade não são "programadas biologicamente", como entre os animais inferiores. (As teorias que os homens desenvolvem podem afetar a natureza, através de suas aplicações tecnológicas, mas elas podem não chegar a se constituir como características do mundo natural, como o são no caso do mundo social.)" (7)
Ora, se a sociologia em particular e as ciências humanas em geral possuem essa indescartável dimensão subjetiva, decorre que não podemos considerar a questão dos valores ou da ideologia como um "resíduo" ou empecilho do conhecimento, a exemplo do que ocorre normalmente nos meios universitários. As ciências humanas devem buscar o seu próprio estatuto de cientificidade e abandonar, de uma vez por todas, o que poderíamos chamar de "complexo de ciências naturais".
As ciências naturais, por terem como objeto um mundo que não é constituído por sujeitos, tal como ocorre em relação à ciência social, apresentam, em cada época, pressupostos epistemológicos e métodos de verificação mais estáveis e harmônicos. Isso não quer dizer que sejam infensas às rupturas, revoluções epistemológicas e anarquia metodológica, e até mesmo às lutas marcadamente ideológicas e políticas em termos de formas de constituição e legitimação dos conhecimentos produzidos. Sem falar naquelas contradições mais óbvias, que dizem respeito à localização dos problemas e prioridades de pesquisa. Porém, nas ciências sociais tais lutas são sempre mais intensas e agudas, pois o que esta em jogo não são objetos ou objetivações que, indiretamente, produzirão seus efeitos (em geral confusamente percebidos) nas relações sociais. Ao contrário, o que está sendo tratado, por exemplo na sociologia, são as próprias ações dos homens uns sobre os outros. E além do mais, nas ciências sociais, as hipóteses, explicações ou teorias, verdadeiras ou falsas, em alguma medida passam a compor o próprio objeto estudado à medida que são divulgadas. Do conhecimento produzido pelas ciências da natureza, podemos dizer que, tendencialmente, caminham no sentido de explicitar a objetividade em si mesma, como algo independente das vontades e interesses humanos. Por outro lado, nas ciências sociais, em virtude de tratar com um objeto paradoxal, por ser um "objeto sujeito", enquanto o sujeito que investiga, ele próprio é uma parte inseparável do objeto investigado, a pergunta "o que é a sociedade" é rigorosamente inseparável de outra: "como deve ser a sociedade?".
Portanto, a diversidade e as discussões metodológicas que permeiam as ciências humanas não apenas são inevitáveis, como absolutamente necessárias. Não se trata de "imaturidade" ou "crise de formação" de uma ciência que seria ainda muito jovem, mas algo que resulta de sua própria essência como modalidade do saber. As classes sociais (e até os indivíduos) ocupam uma posição diferente dentro da sociedade e, por esse motivo, é natural que tenham motivações, interesses e perspectivas teóricas diferentes ou, no caso de classes antagônicas, perspectivas teóricas opostas. Afirmar que só existe uma resposta possível, "cientificamente correta", para cada questão social, ou um único tipo de questão em torno de cada temática, é preparar teoricamente o terreno da manipulação e do obscurantismo. Vale dizer, no entanto, para evitar possíveis mal entendidos, que não estamos propondo uma total arbitrariedade subjetivista nas ciências sociais, nem a imprecisão como mérito do conhecimento. A verdade concreta existe, pois a realidade social é algo que objetivamente estamos reproduzindo e construindo diariamente. Mas exatamente por ser uma realidade em constante auto-produção - ao invés de uma "coisa" já feita e acabada - o critério da verdade remete para o próprio processo de auto-construção social do homem e não para eventos específicos, tomados empiricamente, que dariam a palavra final, o veredito, sobre a verdade ou falsidade de uma hipótese ou teoria.
Por isso, cada corrente de pensamento, a partir de suas próprias premissas, num diálogo constante com as demais, buscando assimilar seus métodos especiais e confrontando resultados, deve desenvolver suas pesquisas e seu corpo teórico. Mas quando falamos em "diálogo" estamos falando de crítica, e quando falamos de crítica estamos falando de análise e confrontação, o que inclui a discussão dos "valores" que estão por trás de cada postura epistemológica. No campo teórico, a única postura que realmente obstaculiza o avanço geral do saber é a indiferença, a sinuosidade das afirmativas que, antes de tudo, visam não atingir ninguém".
De qualquer modo, tanto nas ciências naturais quanto nas sociais, o método é sempre indispensável, até mesmo quando se pretende superar todos os métodos passados. E isso, porque o conhecimento humano tem dois pressupostos fundamentais: 1) a unidade do real, que se comprova pelo simples fato da generalização e da abstração que constituem a própria essência dos conceitos; 2) o caráter cumulativo do conhecimento que fica demonstrado, não pela continuidade formal das teorias, mas exatamente pelo fato que, apesar das descontinuidades, a práxis humana tem uma direção ascendente, ou seja, o homem domina e se apropria cada vez mais do mundo objetivo. Ora, se o mundo real tem uma determinada unidade ontológica e o conhecimento é cumulativo, resulta que só podemos penetrar no desconhecido pela via do conhecido. O método é uma ponte que o mundo conhecido lança sobre o mundo desconhecido, independentemente de nossa disposição em utilizar este ou aquele método. Logo, se o método é inevitável, é melhor que seja consciente e sistemático, o que não significa assumir o "dogmatismo do método", o que nos levaria apenas até as portas do desconhecido, sem condições de penetrar efetivamente nele. O método é dinâmico. Caracteriza-se também, tal como o conhecimento, por ser um processo e nunca um ponto fixo. Numa palavra, o método é constituído pelos conhecimentos fundamentais acumulados a respeito do processo de conhecimento. Para Castoriadis, ele é um "sistema de categorias operantes", o que significa dizer que ele decorre dos conhecimentos mais universais e tem como finalidade lançar uma primeira luz sobre as realidades particulares que temos como objeto. Em termos filosóficos, isso se manifesta do seguinte modo: "O conhecimento da realidade, o modo e a possibilidade de conhecer a realidade dependem, afinal, de uma concepção da realidade, explícita ou implícita. A questão: como se pode conhecer a realidade? é sempre precedida por uma questão mais fundamental: o que é a realidade?"(8) Portanto, de certo modo, o método é tudo que se sabe do objeto antes de abordá-lo diretamente. São os caminhos que devem ser assumidos para penetrar na realidade do objeto do conhecimento. Tais caminhos são definidos em níveis de abstração decrescentes: partimos, por exemplo, do pressuposto de que a realidade histórica é dinâmica, possui contradições, etc, até chegarmos aos instrumentos específicos (tais como questionários, entrevistas, observação participante...) que visam desvendar concretamente uma realidade particular.
Enfim, se é inerente à sociologia e as ciências humanas a pluralidade das perspectivas teóricas, a diversidade dos métodos, também o é a "socialização das técnicas" de pesquisa. Nesse terreno, especialmente, qualquer preconceito é extremamente nefasto. Grande parte dos métodos ou técnicas de pesquisa empírica já são, hoje, patrimônio comum da sociologia, à medida que utilizados no contexto de pressupostos e categorias teóricas que estabelecem seus limites e possibilidades como instrumentos heurísticos.
BIBLIOGRAFIA
(1) MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã (Feuerbach). São Paulo, Editorial Grijalbo, 1977, p. 127.
(2) GUIDDENS, Anthony. As idéias de Durkheim. São Paulo, Editora Cultrix, Coleção Mestres da Modernidade, 1978, p. 24.
(3) BOURDIEU, Pierre. Pierre Bourdieu. São Paulo, Editora Ática, Coleção Grandes Cientistas Sociais, 1983, p. 12.
(4) MARX & ENGELS, op. cit., p. 128.
(5) Idem, p. 39.
(6) CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade. São Paulo, Editora Paz e Terra, 1982, p. 55.
(7) GUIDDENS, Anthony. Novas Regras do Método Sociológico. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1978, p. 169.
(8) KOSIK, Karel. Dialética do Concreto. Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1976, p.35.
Referência:
GENRO FILHO, Adelmo. Algumas questões de método em sociologia. Boletim de Ciências Sociais – Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Florianópolis, UFSC, mimeo., n.40, jan.-mar., 1986, pp. 1-12. [Texto produzido para a disciplina "Técnicas de Pesquisa em Sociologia" do Curso de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, ministrada pela professora Neide Almeida Fiori, no primeiro semestre de 1984] [Ref.: T080]

Atividade
Este, de longe, é o texto mais complexo dos textos estudados até o momento, por isso vamos “dissecá-lo” para melhor compreendê-lo. Siga as orientações descritas nos tópicos abaixo:
1-) Leitura geral do texto.
2-) Separação das partes do texto seguindo o seguinte critério:
a) Pensamento de Durkheim.
b) Pensamento de Max Weber.
c) Pensamento de Karl Marx.
d) Pensamento de Descartes
3-) Dividindo os diversos momentos históricos do texto:
a) Idade Média
b) Renascimento
c) Iluminismo
4-) Idéias dos pensadores contemporâneos:
a) Anthony Giddens
b) Pierre Bourdieu
c) Cornelius Castoriadis
d) Karel Kosik
5-) O que significa utilizar um método científico em ciências sociais?

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